João 3,22-30
A Festa de hoje encerra o sagrado tempo do
Natal: o Pai apresenta, manifesta a Israel o Salvador que ele nos deu, o Menino
que nasceu para nós: “Tu és o meu Filho amado; em ti ponho o meu bem-querer”,
ou, segundo a versão de Mateus: “Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo!” (3,17).
Estas palavras contêm um significado muito
profundo: o Pai apresenta Jesus usando as palavras do profeta Isaías, que
ouvimos na primeira leitura da missa. Mas, note-se: Jesus não é somente o
Servo; ele é o Filho, o Filho amado! O Servo que o Antigo Testamento anunciava
é também o Filho amado eternamente! No entanto, é Filho que sofrerá como o
Servo, que deverá exercer sua missão de modo humilde e doloroso!
Hoje, às margens do Jordão, Jesus foi ungido
com o Espírito Santo como o Messias, o Cristo, aquele que as Escrituras
prometiam e Israel esperava. Agora, ele pode começar publicamente a missão de
anunciar e inaugurar o Reino de Deus. Esta missão, ele começou desde que se fez
homem por nós; agora, no entanto, vai manifestar-se publicamente, primeiro a
Israel e, após a ressurreição, a toda a humanidade. É na força do Espírito
Santo que ele pregará, fará seus milagres, expulsará Satanás e inaugurará o
Reino; é na força do Espírito que ele viverá uma vida de total e amorosa
obediência ao Pai e doação aos irmãos até a morte e morte de cruz.
Mas, atenção: como já dissemos, esse Jesus
que é o Filho, é também o Servo sofredor, anunciado por Isaías. Hoje, o Pai
revela a Jesus qual o modo, qual o caminho que ele deve seguir para ser o
Messias como Deus quer: na pobreza, na humildade, no despojamento, no serviço!
É assim que o Reino de Deus será anunciado no mundo. Jesus deverá ser manso:
“Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas”. Deve ser cheio
de misericórdia para com os pecadores, os fracos, os pobres, os sem esperança:
“Não quebra a cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega”. Ele irá
sofrer, ser tentado ao desânimo, mas colocará no seu Deus e Pai toda a sua
esperança, toda a sua confiança: “Não esmorecerá nem se deixará abater,
enquanto não estabelecer a justiça na terra”. O Senhor Deus estará sempre com
ele e ele veio não somente para Israel, mas para todas as nações da terra: “Eu,
o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te
constituí como aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos aos
cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas”.
E Jesus já começa cumprindo sua missão na
humildade: ele entra na fila dos pecadores, para ser batizado por João. Ele,
que não tinha pecado, assume os nossos pecados, faz-se solidário conosco; ele,
o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo! “João tentava dissuadi-lo,
dizendo: ‘Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim?’
Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Deixa estar, pois assim nos convém cumprir toda a
justiça’” (Mt 3,14s). Assim convinha, no plano do Pai, que Jesus se humilhasse,
se fizesse Servo e assumisse os nossos pecados! Ele veio não na glória, mas na
humildade, não na força, mas na fraqueza, não para impor, mas para propor, não
para ser servido, mas para servir. Eis o caminho que o Pai indica a Jesus, eis
o caminho que Jesus escolhe livremente em obediência ao Pai, eis o caminho dos
cristãos, e não há outro!
Uma última observação, muito importante: João
diz: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Ele
vos batizará no Espírito Santo e no fogo”. O batismo de João não é o sacramento
do Batismo: era somente um sinal exterior de que alguém se reconhecia pecador e
queria preparar-se para receber o Messias. Ao ser batizado no Jordão, Jesus é
ungido com o Espírito Santo para a missão. Esta unção será plena na
ressurreição, quando o Pai derramará sobre ele o Espírito como vida da sua
vida. Então – e só então – ele, pleno do Espírito Santo que o ressuscitou,
derramará este Espírito, que será também seu Espírito, sobre nós, dando-nos uma
nova vida! Para os cristãos, não há batismo nas águas, mas somente Batismo no
Espírito, simbolizado pela água (cf. Jo 3,5; 7,37-39). Ao sermos batizados,
recebemos o Espírito Santo de Jesus e, por isso, somos participantes de sua
missão de viver, testemunhar e anunciar o Reino de Deus, a Vida eterna, a Vida
no amor a Deus e aos irmãos, que Jesus veio anunciar ao se fazer homem igual a
nós! Mas este testemunho não é festivo, não é de oba-oba, mas um testemunho
dado na simplicidade, na pobreza e na humildade do dia a dia!
Eis! O Menino que nasceu para nós, a Criança
admirável que cresceu em sabedoria, idade e graça, submisso aos seus pais na
família de Nazaré, o Deus perfeito, filho da Toda Santa Mãe de Deus, Aquele que
com o brilho de sua Estrela atraiu a si todos os povos, hoje é apresentado pelo
Pai: ele é o Filho querido, ele é o Servo sofredor, ele é o Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo, ele é o Messias, o Ungido de Deus! Acolhamo-lo na
nossa existência e no nosso coração e nossa vida terá um novo sentido.
Seguindo-o, chegaremos ao coração do Pai que o enviou e é Deus com ele e o
Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém!
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